30/01/82. Numa tarde, num palco, colorido por luzes, o Lineu disse _“sim”_ a um texto , A Era de Aquário, e se tornou dele o protagonista, unindo o elenco, no tempo-espaço, incrustando, num amálgama de amizade, as pessoas ali presentes, cada um com seus segredos de espírito, num acontecer predestinado. Nascia a Era de Aquário. Nascia o Grupo Aquarius.
Foi a oportunidade de aprender a alegria e a felicidade pelo nosso trabalho de representar, ao mesmo tempo em que mandávamos ao mundo nossa mensagem, liderados pelo talento de ator que o Lineu tinha, e pela pessoa cativante que ele era.
Construímos, ali, para nossa felicidade, o alicerce que nos manteria unidos por 11 anos (hoje, sem ele, 28 anos, pois prosseguimos prazeirosamente com A Era, orgulhosos de nosso convívio, de nossas realizações, de nossas encenações_ traduzidos em nossas palavras, gestos, corpo, música e entonações. E podíamos ouvir a resposta de um público silencioso, que escutava nossa mensagem, mesclada de denúncia e de amor, que nos prendia no palco_ e no palco da vida.Depois os abraços_ e os sorrisos inesquecíveis de felicidade, de dever cumprido, da verdade assumida. Dele e do Grupo.
Logo vinha o depois_ era um Lineu, dando uma “bronca”, mas conservando a doçura nos olhos:
_Você esqueceu esta fala... você essa... e aquela,...
_ Vocês têm que prestar mais atenção...
_ Desculpe-me, Lineu ( era o máximo que podíamos responder)
Vocês têm que prestar atenção, eu tive que decorar o texto inteiro, pra dizer as falas que vocês esquecem!!
O Grupo ficava em silêncio... com uma dor no coração do instante perdido.
Desabafo feito, e ele já tecia o futuro da peça, o encontro festivo do grupo, a próxima viagem, a próxima aventura, a próxima anedota, a próxima canção. E o o grupo se tornava mais forte, mais unido.
“Cada indíviduo do gênero humano contém inteiramente o outro... Os indivíduos são espelhos postos face a face... Vamos nos aproximar... num silêncio que nos leve fora do tempo e do espaço, olhar com olhar...” . Sua falas, como personagem especial, se transformaram numa mensagem pessoal, que conservamos para o pouco de vida que cada um de nós terá. Eu jamais tê-la-ia apreendido, com o gosto com que a saboreio hoje, sem os “contemporâneos da mesma eternidade”, se não tivesse a vivência no Grupo Aquarius._Aí se criaram as amarras “delicadas” que envolvem a amizade, o companheirismo, a graça de viver ao lado do outro, mesmo em momentos breves, mas intensos.
O Lineu era um poeta, pois fazia da vida um poema, e do ato de viver uma aventura inesquecível. Fazia do teatro a sua verdade_ quando, no palco, inquiria à platéia _ com brilho intenso nos olhos; na voz, o vigor, o tom certo da interpretação e emoção;:
_Quem somos?
E depois, na fala humilde, se revelava no poema de Manuel Bandeira:
"Mas por que tanto sofrimento
se nos céus há o lento
deslizar da noite?
... se o meu pensamento é livre na noite?"
Lineu, não pudemos dizer-lhe “muito obrigado”, o quanto o amávamos e o admirávamos. Você já é livre, já decifrou o mistério da vida. Nós ainda estamos decifrando-o. Mas sua voz ainda ecoa em nossas mentes , com a fala final da Era: “é urgente o amor”.
Com meu carinho, Joana Rolim.